Meditações sobre uma Ordenação Episcopal

“Jesus chamou os doze discípulos
e deu-lhes poder para expulsarem os espíritos maus
e para curarem todo tipo de doença e enfermidade.” (Mt 10,1)

Ontem, 17 de junho, na Catedral Mãe de Deus, participei com imensa alegria da missa da ordenação episcopal de Dom Juarez Albino Destro, novo bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre.

A liturgia da ordenação episcopal é tão bela, tão profunda e sublime e, ao mesmo tempo, tão simples! Nos símbolos e sinais, a riqueza de uma teologia que brota viva da Palavra de Deus! Os cantos litúrgicos, tão lindamente entoados, elevavam meu coração a Deus em sublime alegria!
Tudo era muito profundo e imenso, e eu queria saborear cada palavra, cada gesto litúrgico, cada elemento do rito, com coração aberto para acolher tão imensa graça que se derramava sobre nós!

Quando Dom Jaime impôs suas mãos, em reverente silêncio, sobre a cabeça do “Eleito”, eu me lembrei que era esse o gesto que sacramentalmente unia o novo bispo à cadeia da sucessão apostólica e o ligava espiritualmente, misticamente, aos Doze, aos primeiros Apóstolos chamados diretamente por Cristo. Desde Pedro, através da imposição das mãos, a Igreja institui seus pastores, numa sucessão nunca interrompida. Ali, naquele silêncio sublime e solene, num gesto tão simples e singelo que talvez tenha passado despercebido a tantos ali presentes, ali se atualizava o Mistério da Igreja na sucessão de seus Apóstolos! Foi um gesto tão rápido e sutil que, antes que eu conseguisse apreciá-lo plenamente, já havia terminado!

Eram tantos e tão belíssimos os símbolos e sinais do rito de ordenação, que minha alma não dava conta de se deliciar plenamente com tudo! O ‘propósito do Eleito’, a prostração, a Ladainha de todos os Santos, a prece de ordenação com o Evangelho sobre a cabeça do Eleito, a unção da cabeça, a entrega do livro dos Evangelhos, a entrega do anel, a imposição da mitra e a entrega do báculo pastoral… Era tudo tão forte, tão imenso, tão belo, tão profundo! Eu queria escutar cada Palavra proferida e guardá-la no coração com gratidão e alegria!

No entanto, havia algo na celebração que perturbava um pouco meu coração e me distraía e dificultava a minha escuta e contemplação do rito. Muitas pessoas se colocaram em pé diante do presbitério durante estes momentos do rito, com seus celulares erguidos, tentando filmar estes momentos, e a agitação das pessoas, seus celulares em punho, me distraíam e me entristecia. Eu murmurava no meu coração por que estas pessoas não ficam quietas em seus lugares para ‘participar’ da celebração com um coração orante, ao invés de filmá-la? A ordenação não é um espetáculo para ser filmado, é uma celebração para ser rezada! Além de não conseguirem participar plenamente da celebração porque estavam focadas em filmá-la, elas também atrapalhavam os fiéis, que não conseguiam ver o que estava acontecendo no presbitério, e distraíam sua atenção.

Eu percebi que uma parte da minha experiência da celebração foi ‘sequestrada’ por estas pessoas com seus celulares em punho.
Fiquei meditando que talvez estas pessoas não tenham ainda compreendido o que significa uma celebração eucarística, talvez ninguém as ajudou a compreendê-la com uma boa catequese. Talvez a nossa cultura contemporânea, que tanto valoriza as mídias sociais, conduz as pessoas a se ocuparem com o registro das experiências para posterior divulgação em suas redes sociais, ao invés de viverem plenamente o ‘aqui-e-agora’ da experiência. Fiquei triste por elas e triste por mim, que me deixei distrair por elas.

Pensei em escrever estas observações talvez para ajudar as pessoas a tomarem consciência da importância de não erguerem seus celulares durante as celebrações eucarísticas, de não “assistirem” a uma missa como um espetáculo teatral, mas de “participarem” da missa com um coração orante, silencioso e plenamente presente.

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