E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água
que jorra para a vida eterna. (Jo 4,14b)
Ontem à noite, quando rezava diante do Santíssimo,
e escutava o barulho alto dos carros e das pessoas passando na rua,
eu vi que o Eremitério do Coração de Maria ao pé da Santa Cruz é como uma grutinha de onde brota um pequenino olho d’água.
A oração constante e contínua é como um fio de água
manando sem cessar da profundeza da terra.
A oração vem de Deus, como a água vem da profundeza da terra.
A oração brota do meu coração como a terra porosa
que se abre para deixar fluir o dom de Deus.
Assim, dia e noite, os cânticos, as palavras,
os salmos, as súplicas, os louvores,
as orações de cada instante são essa água miúda,
silenciosa, gentil e mansa,
que brota sem cessar da profundeza da terra.
Esse fio pequenino d’água que brota da oração contínua
no escondimento da ermida
segue seu curso
como a água que brota do lado do templo na profecia de Ezequiel,
um filete de água que cresce tanto que lá adiante
se torna um rio impossível de atravessar, a não ser a nado (Ez 47,5b),
e nas margens junto a esse rio cresce toda espécie de árvores frutíferas;
e seus frutos servem de alimento e suas folhas são remédio (cf. Ez 47,12).
O pequenino olho d’água fica protegido no escondimento da ermida.
Lá fora, o sol ardente tudo queima e seca,
mas aqui, sob a sombra do silêncio da gruta, a nascente floresce
e jorra sem cessar a água viva da oração
para fecundar a terra toda.