Contemplação do abismo

Dos Diários do Mosteiro – 05 de maio de 2017.

Não sei se vou conseguir me lembrar e relatar tudo o que vi, tudo o que Ele me mostrou.

Estava meditando sobre o mistério do batismo de Jesus e subitamente apontaram o meu olhar para o abismo, para a morada dos mortos. Como explicar o que eu vi, não com os olhos, mas com o pensamento, com o coração?

Chorei de dor porque o abismo existe verdadeiramente.

Nem tudo o que eu via eu compreendia, eu tinha rápidos vislumbres de entendimento entrecortados por espessas nuvens de mistério. A compreensão não era linear, não seguia um pensamento encandeado com começo, meio e fim, eram fragmentos de compreensão, rápidos vislumbres, por isso minha dificuldade agora em lembrar e relatar.

Meu relato não seguirá a ordem temporal daquilo que vi, por causa dessa fragmentação da experiência e da dificuldade em reter a experiência na memória.


Vi a unidade do mistério da Encarnação e da Redenção.

Deus enviou seu Filho Unigênito para nos resgatar da morte. Deus não nos criou para a morte, mas para a vida, para sermos co-criadores, seus filhos, co-participantes de sua divindade, para contemplarmos sua glória e gozarmos da plenitude da vida junto a Ele, com Ele e nEle.

Mas nos afastamos dele livremente pelo pecado e caímos nesse mundo, nesse universo onde há dor, morte e sofrimento. Fomos aprisionados pelo inimigo, o senhor da morte, nos tornamos seus escravos pelo pecado. Afastando-nos de Deus, de sua Lei, de seu amor e de seus mandamentos, caímos no abismo, caímos na morte, escravos do pecado, prisioneiros do Maligno.

O abismo existe e é a morada do Maligno.

Ali jazem, na dor, na treva, na agonia, no sofrimento e no desespero do vazio, os que livremente se afastaram da luz e se tornaram cativos do inimigo.

Somos livres para escolher a luz ou a treva, o bem ou o mal, Deus ou o príncipe das trevas, a verdade ou a ilusão.

Foi para nos salvar do abismo, para nos salvar da morte, para nos salvar dos grilhões do inimigo, para nos libertar da escravidão do pecado, que o Verbo se fez carne, que o Pai enviou seu Filho para habitar entre nós.

O Filho não apenas encarnou na terra e se fez Filho do Homem, filho de Adão, se fez um de nós, como também desceu à mansão dos mortos para vencer o inimigo em sua própria fortaleza.

Só Ele, como Deus, poderia vencer o príncipe das trevas. Nós, como humanos, não temos força para vencê-lo. Sozinhos, somos vencidos por ele, por suas tentações. Nossa carne é fraca. Mas com Cristo, em Cristo, vencemos o mal e derrotamos os grilhões do pecado.

Cristo é nossa força, nosso escudo, rochedo e proteção. Com Cristo, vencemos todo o mal e as armadilhas da mentira não tem mais efeito em nós.

Cristo amarrou o dragão e ele será totalmente derrotado no fim dos tempos, quando Deus nos dará uma nova terra e um novo céu, livre de todo mal.

Por enquanto, o inimigo ainda está no abismo, mas preso. Só caem em suas armadilhas aqueles que o procuram livremente, aqueles que buscam o mal.

Precisamos anunciar ao mundo, proclamar que o dragão foi vencido, que a morte foi vencida e que Deus nos reconciliou consigo pelo sacrifício e misericórdia do seu Filho.

Cristo rompeu o véu do santuário com sua morte e nos libertou, podemos agora retornar ao Pai.

Ele é o Caminho que nos leva ao Pai.

Quem nele crê tem a vida eterna.

Quem o segue é salvo do abismo.

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