Sobre fé, razão e superstição

11 de janeiro de 2017

Amar ao próximo é uma consequência inevitável do amor a Deus.

O mandamento é para amar a Deus, não é para temer a Deus.

A diferença entre fé e superstição é que a fé surge do amor e a superstição, do temor.

Amar a Deus com todo o meu entendimento significa com toda a minha razão, com toda a minha inteligência.

O amor a Deus abre as portas do coração para a revelação da fé.

A fé desvela Deus ao olhar do coração.

A fé ilumina aonde a inteligência, por si só, não alcança.

O universo sensível é racional. As leis que regem e fundamentam o mundo natural são inteligíveis, isto é, são apreensíveis pela razão.

A inteligência, a razão, é dom de Deus.

Mas Deus, em si, é inacessível à razão. Deus está além da razão, a ultrapassa e a antecede. Ele é, de certa forma, a própria razão, a racionalidade da razão. A parte pode refletir o todo; como num holograma, o homem (a parte) é a imagem do todo (Deus), mas a parte não é o todo. A razão humana é uma imagem, um reflexo da razão pura, da razão suprema, que é Deus: “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou” (Gn 1, 27).

A razão está vinculada à palavra, ao Verbo. A razão se manifesta no homem como pensamento; e o pensamento é constituído por palavras. Os homens precisam de palavras para se comunicarem.

Deus nos fala através de palavras. Nosso conhecimento de Deus é mediado por palavras.

As palavras são pontes que unem nosso pensamento, nossa consciência, a Deus.

As palavras são sinais que nos indicam o que é Deus, e onde está Deus.

As palavras são os instrumentos da razão, são os meios da razão que nos conduzem ao conhecimento de Deus.

Conhecer Deus é se encontrar com Deus.

Há várias formas, níveis e intensidade de encontros com Deus.

A fé nos revela Deus.

A revelação de Deus na fé é direta, sem a intermediação de palavras. As palavras surgem depois, para tentar explicar e comunicar a experiência da revelação.

A razão tenta explicar através de palavras, de conceitos, de relações lógicas e de causalidade, a experiência da fé, tentando traduzi-la em linguagem que possa ser comunicada e compartilhada.

A palavra torna universal aquilo que, em sua natureza, é singular.

A razão torna objetiva a experiência que, em sua natureza, é fundamentalmente subjetiva.

Através da razão, a experiência da fé se torna universal, comum a toda a humanidade.

Através da razão e de seus instrumentos – a palavra e a lógica-, o conhecimento de Deus é transmitido, de geração a geração, através das culturas, através da história dos homens.

A fé é a experiência subjetiva do amor a Deus.

Ter fé é amar a Deus.

É preciso amar a Deus com todo o meu entendimento, amar a Deus com toda a minha inteligência. Ou seja, é preciso ter fé com todo o meu entendimento; ter fé com toda a minha razão.

A fé ilumina a razão que, sozinha, andaria nas trevas e não saberia para onde vai. Quem “caminha nas trevas, não sabe aonde vai” (1Jo 2,11).

Mas a palavra “fé” também é usada por pessoas que têm somente a experiência do temor a Deus. Neste caso, ela é mal utilizada, o seu sentido é equivocado e causa de grande desentendimento e de escândalo.

Há pessoas que se dedicam a práticas “piedosas” por medo do “castigo” divino ou para assegurar um lugar no “céu”. Nesse sentido, práticas supersticiosas são equivocadamente chamadas de “demonstrações” de fé.

É importante enfatizar a distinção entre fé e superstição:

A superstição é irracional, ela é antagonista à razão, ela violenta a lógica.

A superstição transforma práticas religiosas em experiências mágicas.

A superstição projeta no mundo invisível, sobrenatural, experiências e fantasias do mundo natural, do mundo sensível.

A superstição simplifica, banaliza o transcendente, a ponto de eliminá-lo e dissipá-lo em práticas imanentes.

A superstição está presente e disseminada em todas as religiões e passa disfarçadamente sob a aparência de experiências de fé.

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