Dos Diários do Mosteiro – 13 de abril de 2017
QUINTA-FEIRA SANTA
Texto escrito após experiência contemplativa que tive durante a cerimônia de lava-pés no mosteiro, quando a abadessa lavou os pés de todas as irmãs.
O Senhor me pediu que falasse do seu amor,
mas vacilo, hesito.
Se eu falar tudo o que sinto, tudo o que me é mostrado, será que acreditarão em mim?
Será que me entenderão?
As palavras com que eu me expressar terão o mesmo sentido, o mesmo sabor para quem as escutar?
Conseguirei comunicar minha experiência do amor de Cristo?
Mas é Ele quem me pede, então confio que Ele fará que seja possível descrever em palavras a experiência do seu amor tal como me é revelado.
Revelar, é isso… Ele tem revelado o seu amor a mim…
Em seu amor, está tudo.
Tudo existe porque Ele ama.
O universo existe porque Ele ama, e o seu amor cria, gera, dá vida.
O amor dito assim é abstrato, metafísico. É apenas um conceito na inteligência, uma ideia, uma abstração.
Mas chegou, então, a plenitude dos tempos e o Filho de Deus, que reinava em sua glória eterna, tudo deixou e desceu à terra como simples homem mortal, por amor.
É esse o amor que preciso proclamar, que quero anunciar.
É esse o amor que se revela para mim.
O amor do Criador que se faz criatura, do Rei que se faz servo, do Verbo que se faz carne.
O amor do Deus todo-poderoso que se faz homem manso e humilde para ser visto por aqueles a quem ama.
Cristo nos ama tanto que quer ser visto, Ele quer que saibamos o quanto Ele nos ama.
Ele faz tudo para nós,
Ele sempre nos envia o seu auxílio,
Ele está sempre com o olhar fixo em nós,
Ele vem e lava nossos pés.
Ele, que é o Rei do universo,
Ele, que veio do Pai,
Ele, que tudo sabe e tudo pode e tudo vê,
Ele vem como servo manso e humilde.
Ele vem como mestre,
Ele vem como farol e guia,
Ele vem como médico.
Ele vem e o maligno se afasta, pois o maligno nada pode diante dEle.
Ele vem e dissipa o erro e a ilusão.
Ele vem para cada um e para todos.
Ele vem e lava meus pés.
Ele, o Senhor do universo,
o meu Rei,
o meu Senhor,
Ele vem como homem manso e humilde de coração.
Esse é o tamanho do amor do Cristo.
E quando Ele revela seu amor a mim, a única resposta possível é amá-lo de volta,
e meu amor não será nada, será como uma gota no oceano.
Jamais conseguirei retribuir o seu amor, sempre me sentirei devedora por não amá-lo o suficiente em resposta ao seu amor.
Mas a cada instante,
a cada oração,
peço a Ele que me ajude
a amar mais.
A amar e servir meus irmãos
mais e mais,
a também me abandonar,
sair de mim,
do meu conforto, do meu egoísmo,
da minha vaidade e soberba
e lavar os pés dos meus irmãos.
Fazer-me presente numa oferenda de amor aos meus irmãos
é a única forma possível
de responder ao seu amor.
Mas serei sempre devedora,
pois quanto mais eu amo,
mais eu me sinto amada por ti,
mais Tu revelas teu amor a mim,
e mais eu preciso amar e servir ao meu irmão.
A experiência do teu amor dilata meu coração,
e quanto mais ele se dilata,
mais teu amor penetra em mim,
me invade e ocupa meu coração,
mais me sinto tomada por tua presença.
E tua presença é concreta,
não é apenas uma ideia em meu pensamento,
sinto uma presença real, algo quase físico no meu peito,
uma sensação de estar plena e em paz,
uma quietude,
ao mesmo tempo que uma expansão,
é como se o universo inteiro estivesse dentro de mim.