Tudo é graça. A nossa existência, todo o universo, até mesmo nossas dores, tudo existe pela graça de Deus. Não existimos no vazio, nunca estamos sós. Existimos e vivemos pela graça e na graça de Deus. A graça não tem medida, ela transborda, ela é inesgotável, superabundante. Quando obedecemos a Deus, à sua lei e à sua vontade, que é amor, quando amamos a Deus e ao próximo, vivemos na abundância e plenitude da graça.  Nossa alegria é completa. No entanto, quando desobedecemos a Deus, por orgulho, porque amamos a nós mesmos mais que a Deus, quando nos fechamos para o amor de Deus e o rejeitamos, então caímos na desgraça, nos afastamos da graça, mergulhamos no abismo da escuridão e da morte. Isto é o pecado. O pecado é a rejeição de Deus, a recusa ao amor de Deus, a desobediência a Deus, e a desgraça é a sua consequência.

         Esta é a tragédia do ser humano, a morte causada pelo pecado, o mergulho na escuridão, a desgraça no abismo da ausência da vida divina. Foi para nos resgatar desta tragédia, para nos resgatar deste abismo e nos trazer de volta à luz, foi para nos reconduzir de volta à vida divina e à santidade original, que Deus nos deu seu único Filho e que o Filho nos deu sua vida, deu-se a si mesmo por nós, esvaziou-se de sua glória, revestiu-se de nossa humanidade, armou sua tenda entre nós, assumindo a condição de servo, e humilhou-se até à morte de cruz. Foi para isso que Deus nos deu tudo, deu-nos a si mesmo. Deus tinha uma única Palavra e esta Palavra Ele nos deu, seu Filho. Esta é a nossa Redenção, pela qual somos libertos do pecado e salvos da morte.

         A nossa redenção, a salvação de nossa alma da morte do pecado é o que mais importa, é tudo o que realmente importa. E o preço da nossa redenção é a cruz.  O caminho para a nossa salvação é o caminho de Cristo: a cruz.  Não há outro caminho. A cruz é a nossa salvação. Esta é a esperança que nos dá o Evangelho.  Nossa cruz, nossa dor, nosso sofrimento, nossas provações, são o caminho da nossa redenção.  A cruz é graça. A nossa cruz, as nossas dores, nossos sofrimentos são graça de Deus. É isso que precisamos compreender, que precisamos acreditar. Crer em Jesus é crer no seu Evangelho, é crer na função redentora da cruz.

         Diante da imensa provação para a humanidade inteira que é esta pandemia, em que todos sofrem, todos, ricos e pobres, grandes e pequenos, velhos e jovens, fortes e fracos, crentes e descrentes, do norte e do sul, de leste a oeste, de todas as raças, línguas e nações, neste momento em que o sofrimento do corpo, da mente e da alma cresce e se amplifica e se difunde por toda a terra, precisamos anunciar o Evangelho da salvação de Cristo Jesus ainda com mais clareza, certeza e coragem.  Precisamos anunciar, com o testemunho de nossas vidas, que Deus nos ama sempre, que Deus nos quer bem, que Deus nos socorre e nos ampara sempre, que Ele escuta e atende nossos clamores e preces, mas que, antes de curar nossos corpos, Ele vem salvar nossas almas. Jesus curava os enfermos como sinal da sua salvação, como sinal do seu reino. A cura dos enfermos não era um fim em si. Hoje, também, peçamos a cura de nossas enfermidades, mas, acima de tudo e, antes de tudo, peçamos a salvação de nossas almas.

         Nossas enfermidades nos educam, nos corrigem, nos purificam, nos santificam.  Antes sofrermos as dores do corpo enfermo do que sofrermos as dores da alma escrava do pecado, afastada da vida divina, mergulhada na escuridão da morte da alma.  Confiemos na obra de Deus, confiemos na sua vontade que nos salva, confiemos nos seus desígnios de amor.

         Carreguemos os fardos uns dos outros, amemo-nos uns aos outros como Jesus nos amou.  Esvaziemo-nos de nosso orgulho e amor próprio.  Doemos nossas vidas pelo bem do próximo. Saiamos de nós mesmos para servir, nos doar e amar.  Este é o caminho de Cristo, nele encontramos a vida em plenitude, alegria completa e salvação eterna.