Milagres…

O ordinário de cada dia
esconde o extraordinário.

Nos equivocamos quando buscamos o extraordinário,
pois o milagre, o espetacular, o sensacional
se esconde no cotidiano ordinário
de nossas vidas.

– I –

Nas palavras escritas por desconhecidas mãos humanas,
transcritas, copiadas, traduzidas através dos séculos,
se esconde um verdadeiro milagre.
Palavras humanas que,
quando pronunciadas, proclamadas,
meditadas e contempladas
revelam o pensamento e a vontade de Deus.
Tornam-se Palavra de Deus
quando o Espírito de Deus que as inspirou
nos corações dos homens e mulheres de séculos antepassados
toca nossos corações hoje.
Quando as lemos e as escutamos,
um milagre ocorre,
milagre cotidiano
da Palavra de Deus revelada.

Escondido nas palavras humanas,
históricas, condicionadas pela cultura,
limitadas pelo horizonte do conhecimento
da época em que foram primeiramente pronunciadas,
escondido nessas palavras,
mostra-se, revela-se
o Espírito de Deus,
a vontade e o pensamento de Deus
ao coração que o invoca,
ao ouvido que se apressa em escutá-lo,
à mente que acorda para acolhê-lo.

O extraordinário, o milagre
cotidiano e escondido
da Palavra de Deus revelada na Escritura Sagrada.

Palavra que se converte em alimento
para o coração que se abre para acolher.

Palavra que ilumina os passos
do andarilho que procura o caminho.

Palavra que abre os olhos aos cegos,
levanta os caídos.

Deus presente,
vivo e verdadeiro
no milagre cotidiano
de um pequeno livro
que se enche do Espírito Santo de Deus,
Espírito de sabedoria e verdade,
Espírito de luz e de vida,
toda vez que o coração humano
medita em suas palavras
e procura ali a fonte de água viva
para saciar sua sede de Deus.
Milagre que transforma
um pequeno livro
escrito por imperfeitas e limitadas mãos humanas
em fonte de água viva,
em Palavra do Deus vivo
para os homens e mulheres de hoje.

– II –

Nosso olhar entediado,
preocupado, exaurido,
olha e não vê.
Na superfície da vida cotidiana,
nosso olhar cansado
se aflige na rotina
e não vê
a graça, a presença extraordinária
e transbordante de Deus
no milagre de cada dia.

A existência de cada um de nós é um milagre.
Que os trilhões de partículas, átomos e moléculas
que constituem nossos corpos físicos
se mantenham organizados em forma de células, tecidos e órgãos
na unidade de um organismo vivo,
é um milagre estupendo, extraordinário.

Que este organismo vivo e multicelular
possua consciência de si mesmo, de existir,
e seja um ser pensante
é um absoluto milagre,
inexplicável, extraordinário.

Que nossas consciências possam se expressar, se comunicar,
se relacionar e transcender a si mesmas
através de palavras e de linguagem
é outro milagre estupendo,
maravilhoso, extraordinário.

Não precisamos buscar Deus
em eventos extraordinários
em espetáculos mágicos,
em êxtases e revelações apocalípticas,
em visões gloriosas
que exacerbam nossos sentidos,
pois Deus está se revelando,
agindo e se mostrando
nos milagres cotidianos da existência,
da vida, da consciência,
das relações humanas,
do pensamento, da palavra,
dos gestos de amor e doação.

– III –

Deus se revelou,
se mostrou
no mais sublime
dos milagres cotidianos:
na fecundação e gestação
de uma nova vida humana.

No ventre de Maria,
uma mulher
tão humana, tão comum,
simples e pobre,
na singeleza de uma pequena aldeia da Palestina,
o extraordinário milagre comum
da vida gerada por Deus
se torna o milagre dos milagres,
o princípio e o fim,
o Criador se faz criatura,
Deus se esvazia, se aniquila,
se humaniza,
encarna no mundo.
Chegou a plenitude dos tempos
e Deus agora habita entre nós.

Milagre que se estende,
que permanece,
que não termina.

Os galileus que olhavam para Jesus
não viam nada de extraordinário,
era um homem como todos os outros homens,
um homem pobre, comum,
filho de José,
carpinteiro.

Jesus falava com autoridade,
conhecia as Escrituras,
curava os enfermos,
expulsava demônios,
abria os olhos aos cegos,
ensinava como mestre da Lei,
mas, para os galileus de seu tempo,
a divindade de Jesus se escondia
e viam apenas
a sua ordinária humanidade.

Pilatos perguntou a Jesus
o que era a verdade.
A Verdade estava diante dele,
diante de seus olhos,
mas Pilatos não via.
Ele via apenas um homem ordinário,
um pobre homem,
condenado pelos seus.

Essa cena se perpetua,
se repete cotidianamente
quando, diante da Eucaristia,
do pão consagrado,
vemos apenas a aparência ordinária do pão
e não reconhecemos
a divindade ali presente,
hóstia que é pão,
mas que é também Cristo
escondido
mas que se mostra
aos olhos abertos pela fé.

O milagre diário da Eucaristia,
o milagre cotidiano da missa,
a extraordinária presença de Cristo entre nós,
nos reconciliando com o Pai,
e derramando o seu Espírito em nossos corações.

O milagre escondido,
o sagrado habitando em nosso cotidiano,
Deus vivo, presente
no ordinário mistério,
no milagre da missa,
milagre sóbrio, silencioso, sereno,
sem estardalhaço,
sem espetáculo,
milagre da vida de Deus em nós,
no pão Eucarístico,
no vinho que é vida derramada por nós,
milagre da Palavra pronunciada
que é a voz de Deus
sendo proclamada.

Milagre que une céu e terra,
Igreja celeste e Igreja peregrina,
santos e santas de todos os tempos e lugares,
milagre do Reino que vem até nós.

Que nossos olhos possam ver
e nossos corações sentir
essa presença extraordinária
de Deus,
do seu Espírito e do seu Filho
no meio de nós,
na liturgia,
na celebração ordinária
do extraordinário milagre da missa.

Amém

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