As virtudes do espírito
são uma só virtude.
É difícil falar de uma delas sem fazer referência às outras,
são todas elas variações, versões levemente diferentes
de uma única virtude,
que é o amor.
Humildade, fé, esperança, caridade,
paciência, benevolência, coragem,
bondade, sabedoria, compaixão…
Falar de uma delas
é falar de todas elas.
Falar de qualquer uma delas
é falar do amor
em uma de suas formas,
em uma de suas manifestações.
Mas, de todas elas,
talvez a humildade seja a que melhor espelha
a essência do amor,
a que mais encompassa todas as outras virtudes,
a que melhor, mais plenamente,
mais completamente e efetivamente
comunica e realiza o amor.
E Deus é amor,
então, a humildade é a virtude
que mais nos aproxima de Deus,
que mais nos assemelha a Deus,
que mais nos revela Deus.
Para mim, pessoalmente,
é a mais difícil das virtudes,
a que mais me desafia,
a que mais exige conversão do meu coração,
a que mais me exige vigilância
e atenção aos meus motivos e intenções,
é a que mais me chama
a sair de mim,
a me descentrar,
a me esvaziar,
a renunciar ao meu falso eu.
A humildade
me faz abandonar a arrogância,
a pretensão de saber as respostas.
A humildade me leva a reconhecer
que nada sei realmente,
que minhas verdades, que meus conhecimentos,
apenas arranham a superfície
da verdade.
A humildade me faz ver e reconhecer
a futilidade e a ilusão
do meu pretenso saber.
A humildade me revela
como nada sei
e me liberta das amarras
da ilusão do falso conhecimento.
Com a humildade, eu sou livre
para mergulhar no mistério,
para me entregar sem medo
ao não-saber.
A humildade me faz ver
como tudo o que eu penso saber
na verdade é apenas aparência,
fumaça que se dissipa com o tempo,
névoa que se desfaz com o despontar do dia.
A humildade me provê de coragem
para me lançar no mistério,
para amar o mistério,
para confiar no mistério.
A humildade abre os meus olhos
para a luz
que se oculta do outro lado
das aparências do saber.
Com a humildade,
eu desço do pedestal
e meus pés tocam a realidade,
meu ser encontra a firmeza
na vida sem pretensão,
na vida sem ilusão,
no esvaziamento do suposto-saber.
E no nada encontro o tudo,
em nada saber
contemplo a verdade em si mesma,
abraçando o mistério,
sou abraçada pelo amor.
Na humildade, reconheço a inutilidade
de meu intelecto e de minha razão
para encontrar a Verdade,
pois é ela que me encontra,
ela vem a mim como graça,
sem explicação, sem merecimento,
como puro dom
gratuito de Deus.
A humildade abre meus olhos
para ver minha iniquidade,
a extensão e imensidão de meus pecados.
A humildade me faz ver
que nada mereço
e que o amor de Deus é graça,
é misericórdia sem limites.
A humildade me faz reconhecer
minha fraqueza
e minha necessidade de conversão constante,
contínua.
A humildade abre meus olhos
para os sentimentos de orgulho e egoísmo
que brotam continuamente do meu coração.
Com a humildade,
vejo o abismo infinito
que me separa da perfeição
e da santidade do Pai.
E, me reconhecendo
fraca, pequena e pecadora,
me sinto abraçada
pela misericórdia e pelo amor do Pai,
salva pela paixão do Filho
e santificada pelo Espírito.
Humilde, eu consigo acolher o amor
e a salvação,
o perdão e a misericórdia.
Na humildade,
eu consigo converter o meu coração
e abri-lo para acolher o Senhor
que quer entrar
e aqui fazer sua morada,
em mim habitar.
A humildade é a chave sagrada
que me abre para o amor de Deus,
para a vida plena
em Cristo, na luz.